E a Quaresma, como anda?


Quaresma é tempo de conversão. Será mesmo?

Gostaria de convidar você a se perguntar sinceramente como anda a sua quaresma. Muitos de nós fazemos grandes e pequenos propósitos quaresmais desde que nos entendemos por gente: abrimos mãos do café, do chocolate, dos doces, do álcool, dos pequenos e legítimos prazeres e de muitas outras práticas que, no tempo comum, são tão normais quanto trocar de roupa. Ainda, fazemos grandes propósitos e nos infligimos algumas penitências: banho gelado, jejum, abstinência de carne, dormir sem travesseiro e muitos outros.
            Também temos o santo hábito de colocarmos alguns propósitos espirituais: terço ou dezena diários, missa diária ou mais de 2 vezes na semana, comunhão frequente, exame de consciência antes de dormir e tantos outros hábitos que são santos e maravilhosos.
            E, ainda pedindo que você examine sua própria vida nos anos anteriores, vamos capengando durante a quaresma, fugindo de nossos propósitos alguns dias, abrindo mão de algumas penitências quando estamos cansados e lutando todos os dias para conseguir realiza-las. E tudo bem! Afinal, somos nós quem determinamos como será nossas penitências, e o único a quem devemos satisfações é Deus e, caso houver, um diretor espiritual.
            E então, a quaresma acaba. Após a vigília pascal, com a ressurreição do Cristo, nos reunimos com nossos amigos e famílias para comemorar tão grande acontecimento! Jesus Ressuscitou, Aleluia, Aleluia!
            E a vida vai gradualmente voltando ao normal. Os antigos hábitos, ainda muito arraigados, voltam ao normal também, e a vida continua a todo o vapor.
            Porque isso acontece?
            Porque você se esqueceu de fazer a quaresma.
            Você focou tanto em cumprir a infinidade de propósitos virtuosos que determinou para si que esqueceu-se profundamente da razão pela qual você deveria cumpri-los. Tornou-se obcecado por cumprir metas. Isso tudo seria muito bom, se nós não esvaziássemos o tempo quaresmal de sentido enchendo-o de práticas, propósitos e penitências.
            Veja: o tempo da quaresma é tempo de penitência, é verdade! Mas a penitência bem feita tem frutos claros: a conversão. Para isso serve a quaresma!
            Uma prática excelente para antes da quaresma – e para hoje, também -, seria sentar-se e fazer um bom exame de consciência. Contra quais faltas você luta cotidianamente? Ainda há pecados graves que você peca com certa rotina? Ainda há uma constante pecaminosa nas suas confissões?
            Descoberto esse ponto – esse pecado, ou esses pecados, ou tendências, ou desordens – que você tanto repete e alimenta, o que você precisa fazer para livrar-se dele? O que precisa converter-se dentro de você para que, ao menos em um ponto, você se torne mais agradável ao Bom Deus?
            É muito importante que seja um ponto prático, uma situação específica. Afinal, sabemos perfeitamente que quando tentamos dar um passo maior do que as pernas, nosso caminho não sairá bem.
            Vamos supor uma situação. Fulano(a) está lutando há algum tempo contra pecados da carne. Olhares, atos, pensamentos... Tudo isso evidencia uma coisa: fulano(a) não é casto, e cai algumas (ou várias) vezes em pecados neste ponto. Ora, se este é o pecado grave de maior predominância na sua vida espiritual, talvez seja o sintoma de uma trava, que impede você de caminhar para frente.
            O pecado mortal não é um acidente de percurso, mas uma tragédia incomensurável. O pecado mortal não é um espirro, é falência múltipla de órgãos.
            Como já diriam os grandes santos e os manuais de espiritualidade, “os primeiros esforços da piedade se dirigem contra essa abominação, e sua primeira honra será se livrar dela”.
            Isso deve ser feito, é evidente, com paciência. Uma vida inteira de pecados não será, ordinariamente, resolvida com uma hora de oração e algumas penitências. Todavia, uma quaresma bem feita fortalece a vontade.

            Por isso, começaremos uma série de posts que devem ajudar-nos, todos nós, miseráveis almas pecadoras, a fugir do pecado grave como o diabo foge da cruz, e à ordenar a nossa vida interior para dar passos sinceros e eficazes.
            Não há vida interior sem vida na graça. Um cadáver apodrecido não consegue ter vida, e quem dirá vida de oração.
            Confessem-se, queridos! Busquemos a confissão neste tempo de Covid-19 se nos for possível e seguro para aqueles à nossa volta.
Que Deus os abençoe!

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